Iniciativa foi anunciada na terça-feira pela FAPESP e pelo Instituto Jô Clemente. Serão selecionadas até quatro propostas, que receberão financiamento na modalidade Auxílio à Pesquisa Jovem Pesquisador (Michel Brull e Luiz Eugênio Mello assinaram a renovação do acordo de cooperação científica entre o IJC e a FAPESP; foto: Mário Castelli/IJC)
Agência FAPESP – Expandir o conhecimento sobre doenças raras e sobre deficiência intelectual, bem como aprimorar políticas públicas direcionadas a pessoas com essas condições. Esses são os objetivos de uma chamada de propostas lançada na terça-feira (12/07) pela FAPESP e pelo Instituto Jô Clemente (IJC), antiga Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (Apae) de São Paulo.
Durante o evento, realizado na sede do IJC, na Vila Clementino, foi renovado o acordo de cooperação científica firmado pelas instituições em 2017. Com o novo aditivo, a parceria foi prorrogada até 24 de novembro de 2027.
“Hoje iniciamos um novo marco para a condução da pesquisa científica aqui no Instituto Jô Clemente. Ao longo de 61 anos de existência, atingimos resultados significativos na causa da deficiência intelectual. Mas agora temos a oportunidade de ir além. A partir da cooperação científica com a FAPESP, uma das mais importantes agências de fomento da América Latina, queremos incentivar a prática da pesquisa científica básica, aplicada e tecnológica, além do desenvolvimento de metodologias científicas que se apliquem às linhas de pesquisa já existentes na nossa instituição”, afirmou Michel Brull, presidente do Conselho de Administração do IJC.
Também presente no evento, o diretor científico da FAPESP, Luiz Eugênio Mello, disse enxergar como “muito promissor” o engajamento do IJC em atividades de pesquisa.
“A FAPESP é uma organização que financia pesquisa e, quanto mais diverso for o ambiente de entes financiáveis, mais bem-feito será o financiamento. Isso amplia o leque de atuação de uma instituição como a FAPESP, enriquece o sistema”, comentou Mello.
Eduardo Camasmie Gabriel, líder do Comitê Científico e de Inovação do IJC, explicou que a chamada está aberta a propostas de financiamento na modalidade Auxílio à Pesquisa Jovem Pesquisador, voltada a cientistas com experiência internacional e ainda sem vínculo empregatício com uma instituição de pesquisa no Brasil. Serão selecionados até quatro projetos, que deverão ser desenvolvidos no Centro de Ensino, Pesquisa e Inovação (Cepi) do IJC. “Com os resultados, esperamos impactar o segmento de doenças raras e deficiência intelectual, com nível máximo de excelência em pesquisa básica, aplicada e tecnológica”, disse.
O edital estabelece duas frentes para a elaboração das propostas. Uma delas está ligada ao desenvolvimento de produtos ou processos inovadores que possam subsidiar políticas públicas baseadas em evidências voltadas às pessoas com deficiência intelectual no Estado de São Paulo. Os projetos devem buscar soluções técnico-científicas que ofereçam um panorama das condições de saúde, educação, assistência social, vulnerabilidade social e garantias de direitos para essa população, por meio de levantamentos epidemiológicos, coleta de dados primários e diagnósticos.
A segunda frente envolve pesquisas sobre doenças lisossomais – grupo que abrange mais de 70 doenças raras e que faz parte dos chamados erros inatos do metabolismo (EIM).
“As doenças lisossomais estão relacionadas ao mau funcionamento dos lisossomos – organelas repletas de enzimas que atuam como o sistema digestório das células, degradando compostos indesejados. Nos indivíduos afetados, os restos celulares não são eliminados e vão se acumulando, podendo causar disfunção ou morte celular. E isso pode acontecer no corpo todo. Algumas dessas doenças levam à deficiência intelectual, outras podem causar problemas pulmonares ou renais, por exemplo. Essa multiplicidade de manifestações torna o diagnóstico muito difícil, podendo demorar cerca de dez anos. E enquanto isso o paciente fica sem tratamento”, explica Luciene Covolan, professora da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e assessora científica do Cepi.
Poderão ser apoiados no âmbito do edital projetos voltados ao levantamento epidemiológico de doenças lisossomais, bem como ao monitoramento da eficácia (condições e custos) de eventuais tratamentos, com foco em gestores de saúde pública. Também serão aceitas propostas relacionadas ao estudo de fatores genéticos e ao desenvolvimento de teste para mucopolissacaridoses (que estão entre as doenças lisossomais).
“Esperamos com a iniciativa conhecer quem são os cientistas que estão trabalhando com essas doenças no Estado de São Paulo. Queremos que eles saibam que existe fomento para esse tipo de pesquisa. Pretendemos ampliar mais ainda o investimento e esperamos que jovens cientistas sejam estimulados a atuar nessas linhas”, disse à Agência FAPESP Edward Yang, gerente do Cepi.
Covolan destaca outra grande expectativa do IJC relacionada ao edital: o aprimoramento de políticas públicas. “Buscamos obter informações que nos possibilitem atuar na saúde pública, que permitam incluir essas doenças, de fato, na triagem neonatal [teste do pezinho] e criar uma base de dados sobre a deficiência intelectual no Brasil. Queremos saber como essas pessoas vivem e se sociabilizam, se dependem de transporte, onde estudam, se tem acesso à vacina, qual percentual recebe auxílio do governo e quantos vivem em condição de vulnerabilidade. Esse conjunto de dados pode aprimorar as políticas públicas voltadas a essa população.”
Os candidatos passarão por uma pré-seleção que terá por base os critérios de elegibilidade para a modalidade Jovem Pesquisador e uma verificação pelo Instituto Jô Clemente quanto ao alinhamento dos projetos à área temática da chamada. Os pré-selecionados serão então convidados a fazer a submissão do projeto de pesquisa completo, por meio do Sistema de Apoio à Gestão (SAGe), até 10 de fevereiro de 2023.
A chamada está disponível no link: fapesp.br/15574.
Este texto foi originalmente publicado por Agência FAPESP de acordo com a licença Creative Commons CC-BY-NC-ND. Leia o original aqui.